terça-feira, 10 de março de 2009

Festival de Dioníso - Urbana

“Ao homem sensato cabe cultivar uma disposição equilibrada”Dioniso em “As
Bacantes” de Eurípedes.

A presença deles (os deuses) nos fere para nos curar e, a partir daí, curarmos
outros. Como Quíron, o "curador ferido""
. Alexandra


Seguindo tudo direitinho, comemorei ainda essa semana o dia de Artemis, Apolo e Poseidon/Asklepeia. E então, no final de semana iniciei o festival de Dioniso. Admito que isso não foi muito fácil, minha vontade era ínfima e ainda assim eu deixei isso muito claro no inicio do rito. Tinha feito tudo, comprei o que tinha que comprar, mas na hora bateu aquele desânimo. Isso aconteceu porque têm acontecido algumas coisas chatas comigo e como uma boa criança mimada que sou, estava de “biquinho”.
Minha semana fora difícil, mas bem sei de onde eu tirei minhas forças e isso ficou muito evidente hoje no momento em que eu estava simplesmente fazendo algumas preces e depois cantando algumas canções pagãs que eu conheço. Logo no período da manhã eu me sentia muito triste, acordei até mais cedo que o previsto e caí num pranto dolorido, mesmo na noite anterior ter ido dormir aos risos após um pequeno momento ritual a Dioniso ao lado da minha irmã.
Então, um tanto cansada de ficar me lamentando sobre minhas dores emocionais, eu acabei por decidir meditar e foi exatamente o que eu fiz. Fui aos poucos me acalmando, mas então após minha meditação eu fui fazer minhas preces a Dioniso, que tenho feito todos os dias de seu festival. Foi então que meu humor milagrosamente foi se modificando, não fiquei feliz, devo admitir, mas fiquei equilibrada, em paz, calma e otimista. Meu diário se encheu então de coisas que escrevi, que agora para mim não parecem fazer o menor sentido, como que se eu tivesse tomada por um tipo de fé, coisa que sinceramente não cultivo muito.
Minha natureza normalmente é analisadora, observadora e realista, porém a sensação que eu tive a tarde é que estava voando e acreditando em coisas que eu jamais me julguei capaz de acreditar, um negócio bem do além mesmo e por incrível que pareça, por mais que eu devo ter repetido a palavra loucura milhares de vezes a cada frase que eu escrevia, eu tinha plena convicção de que eu estava vendo algo bem palpável, que agora o meu ceticismo já coloca naturalmente em xeque.
Mas, isso só se fez confirmar que na verdade tudo o que eu tive a tarde foi uma experiência de êxtase espiritual, que eu penso ser bem típica do Deus a quem saudamos no festival. Minha alteração no humor tão aparente também foi notável e quando a noite eu resolvi reler “As Bacantes” eu pude notar com certo alívio que é exatamente esse o caminho que os deuses têm me mostrado, que é possível ficarmos equilibrados mesmo nos momentos em que julgamos ser tão difícil ter o menor bom senso, mas podemos cultivar a disposição equilibrada. Posso estar bem longe de ser um exemplo de equilíbrio, mas posso estar disposta a isso.
Durante a tarde eu tive uma experiência de estar viva mesmo tão acometida pela tristeza dos últimos acontecimentos em minha vida, e, após um alto trovão caiu à grossa chuva e eu saí correndo pelo quintal, com as palmas das mãos erguidas para o céu e deixando a chuva me molhar, gritei: “Kaire, Zeus”. E retornei para dentro de casa, dando pulinhos e gritinhos pelo vento que me fez arrepiar toda de frio. E então eu tive o pensamento: “Para quem se encontra tão triste, até que estou bem doida!”.
Domingo eu acordei durante a madrugada com um nome se repetindo em minha cabeça, Dioniso Zagreus. Acabei por encontrar que Zagreus é um epíteto de Caçador a Dioniso e fiquei pensando: “Mas, que raio que ele está vindo caçar na minha cama?”. E então, hoje pude me relembrar que ele é o caçador de bacantes e isso me deu certo alívio, pois Zeus me livre ser caçada por qualquer deus nessa altura do campeonato. Estou farta de inimigos e acontecimentos chateadores, obrigada.
Porém, eu estou otimista, muito otimista, embora meu ceticismo muitas vezes me impila a pensar que eu só estou louca, ou querendo encontrar um motivo para não enxergar a realidade tal qual ela é, estou num ponto onde ou eu acredito ou acredito. E por mais louco que isso pareça eu acredito que isso é somente uma questão de dias. Em todo caso vou esperar e continuar seguindo minha vida da forma como eu tenho feito e esperando que logo todas essas dores emocionais venham a cicatrizar.

Um comentário:

  1. É sempre muito bom ler esses relatos de pessoas que seguem pelas mesmas estradas por onde andamos... ;))

    Grata por citar a frase, às vezes isso funciona como aquele negócio de ser massageado antes de entender o que o outro sente quando você vai massageá-lo. Ou passar por terapia antes de atender os outros. Ou ter sido do A.A. para dar apoio a um novo membro. Quer dizer, como vamos curar se não sabemos qual a sensação de se estar ferido?

    Beijocas,
    Álex

    ResponderExcluir