domingo, 23 de agosto de 2009

Zeus - O Protetor dos Deveres da Hospitalidade




Zeus foi o rei dos deuses, o deus do céu e da tempestade, do destino dos homens e nações, da lei, da justiça e da conduta moral. Ele foi largamente cultuado na Grécia Antiga com numerosos templos e santuários. Muitos desses foram localizados no topo de colinas ou picos de montanhas, encontrou-se lugares onde oferendas eram tradicionalmente feitas para o deus que traz a chuva. Ele foi também cultuado particularmente pelas famílias em pequenos templos domésticos. - Retirado do site Theoi


“Xenios (Hospitaleiro): aquele que guarda a hospitalidade. Zeus também é chamado de protetor dos deveres de hospitalidade (Xenios)”. – Retirado do site Theoi

Por algum motivo hoje eu decidi falar um pouco sobre Zeus, deus ao qual eu sei muito pouco, embora estivesse sempre presente em minha vida de uma maneira ou de outra. Acho que como as outras pessoas eu gostava de pensar mais a respeito de um Zeus guerreiro, portador da égide, soberano, rei, senhor de tamanha nobreza ao qual muitas vezes eu não julgava estar sequer aos pés.
Admito ter ficado espantada quando li há algum tempo que Zeus era protetor dos casamentos (Gamelios), protetor das provisões (Ktesios), mas o que mais me chamou a atenção e pelo o que eu realmente quero falar neste ensaio é sobre Zeus Xênios, aquele que guarda a hospitalidade, o protetor dos deveres de hospitalidade. Na Antiga Grécia, era obrigação receber bem todo e qualquer estrangeiro, de prestar cuidados, auxílio e hospitalidade, isso era um código inviolável de paz.
Nos dias em que vivemos é muito difícil honrar esse código de conduta, nem sempre nós podemos abrir as portas de nossas casas para receber um estranho porque não sabemos na verdade o que nos pode acontecer. Vivemos temerosos e inseguros diante da brutal violência a qual temos de lidar em nosso cotidiano, além de vivermos numa sociedade que carece sem sombra de dúvida de valores. Porém, não por isso devemos deixar de exercer esse código.
Quando recebemos um amigo ou um amigo de um amigo em nossa casa, nós devemos dar-lhe o que há de melhor lá. Não precisa seguir um manual para saber como tratar alguém como que se estivesse recebendo um rei em sua casa, todos nós sabemos como agir, como agradar, como cuidar, como acolher alguém. É dessa forma que devemos ver as pessoas, como nobres que atravessam o nosso caminho, sejam essas pessoas o que forem. Damos o que há de melhor para elas, não para mostrar o que temos, mas sim para nos enobrecer com tal gesto, como faziam os antigos. Cultuar Zeus implica também em seguir seus códigos, fazer aquilo que a energia do Deus nos impele a fazer.
Quando recebemos as pessoas em nossas vidas, seja da forma como for, temos de dar a elas a nossa hospitalidade, o auxilio que elas precisam, cuidar das coisas que elas necessitam e quando partirem sabermos que fomos nobres em nossos gestos e que se algum dia precisarmos estar numa terra estrangeira, talvez tenhamos amigos lá também para nos acolher. Falo também de forma figurada. Muitas vezes pessoas entram em nossa vida num momento em que precisam de nós, podemos dar as costas e fingir que não ouviu as batidas em nossa porta, como podemos abrir a porta e acolhê-las e cuidar delas no tempo em que estiverem em nossas vidas.
Nós pensamos muitas vezes que nem sempre a pessoa agirá com reciprocidade e talvez quando precisarmos dela, ela não nos ajude. Pensamos também que ela pode violar o nosso lugar sagrado, bagunçar com a nossa vida, trair nossa boa índole e se isso acontecer, ela estará violando um acordo sagrado e nós temos todo o direito de declarar “guerra” a essa pessoa, pedir por justiça, buscar pela justiça. Esse caso é muito bem exposto na Ilíada quando Páris abusou da boa acolhida do rei Menelau de Esparta e levou Helena consigo para Tróia. Não somente pelo adultério e desonra do rei Menelau, porém ser acolhido, bem recebido e retribuir todo o apreço do anfitrião com uma traição humilhante era inadmissível. Violar uma regra sagrada era incitar a guerra.
As Máximas Délficas que nos lembra sempre disso são as quatro listadas abaixo, segundo a minha percepção:


55. Dê de volta o que recebeu (Λαβων αποδος) .
93. Lide gentilmente com todos (Φιλοφρονει πασιν)
97. Seja cortês (Ευπροσηγορος γινου)
106. Seja grato (Ευγνωμων γινου)

Da mesma forma nós devemos lidar com os deuses, como muito bem explicado num artigo de Carolyn Hanson, traduzido para o português por Alexandra Nikasios:

Xenia - Amizade convidativa, hospitalidade. O anfitrião e o hóspede/convidado são unidos por concordâncias especiais de amizade, proteção e reciprocidade. Tal relacionamento não é muito diferente do relacionamento entre um cultuador e um Deus. - Conceitos Importantes na Religião Helênica

Como reconstrucionistas helênicos é um dever exercer a hospitalidade como uma forma de honrar e alegrar Zeus, carentes de valores como estamos, devemos buscar agir em nossas vidas adotando códigos de condutas que condizem com a nossa fé e assim ter também um bom relacionamento com nossos deuses e nossos antepassados que nos legaram essa religiosidade que buscamos exercer hoje. Fazer rituais é importante, mas não é somente isso que precisamos para exercer nossa espiritualidade.

Que Zeus e Apolo nos abençoem nessa obra.
Ésto.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Elevando

Estou num momento em que eu chamo de “retiro espiritual”, no começo não era bem o que eu desejava, ainda estava lotada de vontades e desejos bastante sociais, porém depois de um tempo, quando sem querer a calma foi se estabelecendo, tudo então ficou muito mais fácil e meus anseios se tornaram outros como num passe de mágica. Estou seguindo a correnteza e isso é muito melhor que nadar contra ela. Só não é um retiro em si, porque eu ainda tenho que conviver com as pessoas em minha casa e trabalho, mas gosto de pensar assim, esse é aquele momento em que eu quero conhecer tudo.
Quando me vi completamente apartada de uma vida e mente tumultuadas de coisas senti um desejo latente de seguir com mais afinco meu caminho espiritual e quanto mais eu dava vazão a esse desejo, mais calma ia me tornando. Pude ir compreendendo meus desejos anteriores, pude notar o quanto eram descontrolados e vazios de propósitos, vi claramente que eles eram somente um meio de me fazer fugir de mim mesma. Mas, eu tive que caminhar até aqui, eu tive que conseguir essa sobriedade de um jeito que eu não sei explicar.
Tudo o que me vem à mente quanto essa libertação é que meu poder pessoal me guiou até aqui, que meu Daimon me soprou as palavras certas aos ouvidos e mesmo confusa e atormentada pelos meus desejos fúteis, fui aos poucos me deixando guiar. Com isso também fui ficando mais forte, mais forte a ponto de não me deixar atormentar por aquilo que eu chamava de desejo, quando na verdade era uma “não-aceitação” da realidade e quanto mais forte eu ficava mais forte sentia vontade de ficar.
Eu ainda continuo com o mesmo desejo de poder e equilíbrio e às vezes me pego em meu próprio jogo como que se eu tivesse muito acima do resto da humanidade, grande ilusão, eu tenho que me lembrar que estou apenas engatinhando, que eu ainda tenho muita coisa para fazer, muito conhecimento para adquirir e que essa vontade é só minha força impulsora e que se eu não falhar com a disciplina tudo tende a melhorar e tudo também se tornará mais claro para mim.
Muitas vezes me questiono se não é minha vaidade exacerbada que ofende aos deuses, estou sempre muito orgulhosa a cada obstáculo que eu venço e acabo olhando para os que ainda estão atrás com um certo ar de intolerância e arrogância. Penso que embora eu subi um degrau há algo que eu sempre tenho que ter em mente, não são os que estão embaixo que deve me fazer reconhecer que eu subi, mas o presente e o conhecimento que esse novo patamar está me dando. Nunca, em nenhum momento de minha vida havia ficado tão claro que conforme eu vou subindo, vou dando suporte para os que estão vindo atrás de mim. Generosidade não é uma virtude, embora eu ainda não compreenda, ela parece ser indispensável.

domingo, 9 de agosto de 2009

Ares


Ele nos motiva a sair do sofá e fazer uma mudança. Ele é a personificação da evolução. Mude ou morra. Abrace o conflito e procure pela vantagem nisso”. - Alexandra Nikasios em A Força de Ares

“O mundo pode ser um lugar duro e cruel. Ares nos ajuda a passar por isso. Suas bênçãos são a força, a coragem, a fortaleza, a astúcia, e a paixão em lutar pelas coisas que achamos importantes. Ele nos ajuda a desprender o que não for eficiente, a nos tornarmos firmes a fim de encontrar a adversidade da vida. Ele é um mestre durão, mas quando as coisas começam a desmoronar à sua volta, ele é precisamente a pessoa que você vai querer ao seu lado." (Sannion)

Assistindo Roma, num momento a amante de Julio César recebe uma correspondência dele e não gosta ao ver que ele usa a palavra “afeto” ao invés de usar a palavra “amor”. Sua serva sorri e a lembra: “O que você queria? Que ele aparecesse por aqui tocando harpa? Por favor, ele é um soldado, não um poeta!”. É dessa forma que Ares se comunica também, simples, direto, com poucas palavras e muitas ações, ele me faz compreender, por bem ou por mal, mas me faz compreender.

Eu ainda preciso falar mais sobre ele, porque gosto muito da presença tão constante Dele em minha vida, gosto da maneira simples como Ele fala comigo, comentava ontem mesmo com a minha irmã sobre isso, que Ele vem tão simplesmente e diz uma frase perfeita, algo como “Não há nada que você não me peça que eu não atenda” ou algo como “Vou fazer o que me pediu para que não pense que os deuses gregos não estão fazendo nada” ou “Isso tem que acontecer. É assim que tem de ser”. São assim sempre as lembranças de meus sonhos com Ares, frases simples, determinantes e duras.

Falava com um amigo helênico ontem e ele me dizia da época em que tinha um amuleto de Ares, muito sabiamente, ele falava sobre sua época de batalha, onde ele tinha que lutar contra muitas coisas, que ele tinha muitos desejos que queria realizar e que ele estava acima de tudo com sua auto-estima muito baixa. Bem, eu pensei, eu estou numa guerra parecida e tenho muitas coisas para conquistar, muitos bloqueios para ultrapassar e uma auto-estima para cuidar também e nisso tudo, Ares é o cara que eu quero mesmo que esteja por perto.

Ares é o pai sim de Fobos (medo) e Deimos (pânico) e tanto Fobos quanto Deimos já estiveram muito presentes numa fase complicada da minha vida, eu os entendo bem, os reconheço bem e embora sei o quanto eles são eficazes em certos momentos, sei que tenho uma propensão à não desobedecer às ordens de ambos, por isso estou sempre lutando contra eles, para que eles não me paralisem. Mas, Ares também é pai de Harmonia e não podemos desconsiderar isso de maneira alguma. Porém, pouco me importa nesse momento seus filhos, é da presença desse deus que eu quero falar, como uma forma de honrá-lo, de nos lembrar que a guerra é muito mais presente em nosso cotidiano do que nós julgamos.

Foi pedindo para Ares desobstruir meu caminho para aquilo que eu desejo alcançar que tudo aconteceu. Eu estava presa numa situação a qual eu me via como perdedora, fracassada. Quando vi que nessa situação uma pessoa que ocupava o lugar que eu almejava alcançar estava sendo protegida, eu não pude compreender. Como Ele que devia estar ao meu lado e abrindo os meus caminhos havia se colocado contra mim daquela maneira?

Foi o meu momento de fúria e lágrimas, não compreendia aquele momento. Quando Ele me disse que era assim que tinha que ser, eu me conformei a contragosto, Ele devia no mínimo saber o que estava fazendo, eu ainda não compreendia toda a situação, mas tinha uma sensação de que o que Ele estava fazendo fazia parte de um plano maior. Fui seguindo, até que tudo ficou realmente muito claro e eu me alegrei.

O lugar que eu queria alcançar na verdade não tinha nada a ver com o que eu realmente queria, minha visão estava deturpada e aquilo que eu pensava que era realmente o que eu desejava, era na verdade meu inferno na terra. Honrando minha natureza nobre e seguindo exatamente aquilo que eu tinha pedido, Ele de fato não me deu aquilo que eu pensei que estava intrinsecamente ligado ao meu desejo. Foi com alívio que eu consegui enxergar a situação com os olhos limpos, fiquei emocionada com a extrema proteção que esse Deus me proporcionou, Ele me honrou acima de qualquer coisa, como eu tanto clamava aos Deuses para me honrarem.

Com isso tive novamente que averiguar que nem sempre o que parece ruim é na verdade ruim e isso me deu um novo ar, isso só fez aumentar minha confiança em meus deuses, saber que Eles jamais vão me dar aquilo que me fará sofrer sem que eu tenha realmente que passar por isso, me deixa tranqüila e confiante. Nos prendemos muitas vezes em situações terríveis, achando que é exatamente isso o que nós merecemos, quando estamos na verdade mascarando o inferno que desejamos para nós e enquanto não deixamos que o tempo e os deuses nos faça compreender o motivo, não nos desprendemos dessas situações doentias que só nos puxam pra baixo.

De sua forma simples e rude, Ares estranhamente me arrancou daquilo que só me faria mal e me colocou num ponto de partida, onde eu noto que ainda há muito que fazer e que há muito que aprender e que não posso ainda supor como será daqui em diante, mas ele simplesmente tirou do meu caminho (ou da minha mente) aquele desejo deturpado que não me deixava seguir em frente enquanto passava meus dias tentando entender que diabos havia acontecido para que eu não alcançasse aquilo que eu almejava.

Temos de aprender que nossas mentes têm uma maldita mania de fazer com que pensamos que uma casa de madeira é uma casa de concreto, não importa quanta tinta jogamos nessa casa, uma casa de madeira é sempre uma casa de madeira e os deuses jamais nos darão uma casa de madeira quando pedimos uma casa de concreto, porque eles vêem muito além de nós e conhecem a essência das coisas e sabem sempre que por mais que pensamos que uma casa de madeira é uma casa de concreto, eles nos farão, por bem ou por mal, ver que aquela casa que inicialmente pensamos ser a que queríamos na verdade está longe de ser o que realmente queríamos. Lutar contra isso é tolice. Se vamos lutar, vamos lutar realmente por aquilo que queremos.

Efcharisto, Ares Ginaikothonias, aquele que as mulheres festejam.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Ares - Tem de ser assim...

Há sempre aquele momento na vida em que os deuses te jogam num canto e dizem: “Fique quieto aí e não se mexa”, eu dei o nome simples de “restrição”. Estive muito agressiva esses dias, levantei preces onde deixava claro minha insatisfação e minha confusão, há coisas acontecendo que eu não consigo entender de modo algum e que também não consigo aceitar que eu não estou entendendo.
Estive muito próxima de Ares e acabei desenvolvendo um tipo de amor por ele que é atípico, entendo perfeitamente que com cada deus eu terei um tipo diferente de relação, alguns eu amo sem entender, outros eu entendo sem amar, outros eu amo e entendo, outros eu sinto distantes de mim, alguns mais próximos, cada um ao seu jeito sempre fala comigo, às vezes eu entendo bem o que falam, outras vezes eu não entendo nada e vou deixando que o tempo vá me mostrando aquilo que eles querem que eu saiba, que eu aprenda ou que eu entenda.
Ares foi um deus que chegou pra ficar, eu entendo Ares no profundo de mim mesma, é como que se nós falássemos a mesma língua muito claramente e que não me restasse nenhum tipo de duvida quanto ele. Eu ousei pensar que ele poderia ser um patrono pra mim por conta desse tipo de relação. Zeus sempre se mostra muito próximo de mim e eu não consigo entender Zeus como entendo Ares, Zeus fala comigo e eu não consigo ver claramente o que é que ele fala, quando o contrário acontece com Ares.
Entre uma coisa e outra, confiei tanto em Ares a pedir uma coisa até um pouco “injusta” para ele, embora tudo depende exatamente do ponto onde se vê. No final eu pedi por sua proteção contra uma pessoa, o resultado foi um pouco bizarro, porque ele defendeu a outra pessoa de mim. Eu não pude compreender muito bem isso e tive que expor minha indignação, eu me sinto completamente no direito de pedir por proteção para os meus deuses e não julguei justo partirem deles uma proteção para uma pessoa que nem de minha religião faz parte, alguém que nunca levantou uma única prece, alguém que nunca expressou qualquer tipo de afeto para o Olimpo.
Levantei uma prece e ele me respondeu prontamente “Isso tem de acontecer, é assim que tem de ser”. No começo eu nem liguei muito para o sonho, porque estou assistindo a série Roma e na verdade quem me dizia isso era Marte Romano, o que me fez pensar por uns três dias que era um sonho comum com resquícios inconscientes por causa da série. Porém, hoje novamente eu tive uma abertura mental e notei que na verdade era sim uma resposta de Ares, a quem eu fiz a prece, ele nunca me deixa sem resposta, ele tem sido tão presente quanto Apolo, às vezes tem estado mais perto de mim que Dionísio, por exemplo.
Isso me fez pensar algo que no fundo me encheu de esperança, porque na verdade às vezes coisas acontecem e não entendemos porque tais coisas estão acontecendo e com o tempo vemos que aquilo tinha que acontecer daquela maneira para que pudéssemos ter o resultado exatamente como desejávamos. O modo como os deuses agem em nossa vida, nem sempre é o modo como pensamos que deve ser, nem sempre é como esperamos que seja, para no final entendermos corretamente porque todas essas coisas tiveram que acontecer antes. Então eu reli o sonho e eu pensei exatamente isso, que ao invés de ser uma traição, como eu cheguei a pensar que fosse, era na verdade uma estratégia do deus para me atender em minha solicitação.
Nesses momentos eu acho que é muito importante me lembrar do conceito xamã da Grande Teia, onde sabemos que somos todos, homens e deuses, interdependentes. Quando eu faço algo, a reação se expande por toda a teia universal, ninguém pode fugir disso, cada pequeno ato meu ecoa no universo de uma maneira que muitas vezes eu mesma em minha individualidade não posso sequer imaginar. Como na teoria do Caos, o bater de asas de uma borboleta nas Muralhas da China, pode causar um furacão nos Estados Unidos. Como eu mesma disse para uma amiga minha hoje, são as pequenas mudanças que causam uma grande mudança. Uma pequena mudança em meus hábitos alimentares pode fazer com que eu engorde ou que eu emagreça, simples assim. A vida é simples assim.
Foi com esta mesma simplicidade que de alguma forma eu pude entender o que Ares quis dizer com tudo isso, é dessa forma que eu tento compreender um pouco o que é que acontece, embora não entendo muito o porquê de ter de ser assim, algo em mim entende que isso é cabível e que isso é normal e que quando menos eu esperar vou entender tudo perfeitamente. Na verdade, como reconstrucionistas temos de aprender com os deuses, porque por mais registros históricos que encontramos sobre nossa religião, será em nosso dia-a-dia que poderemos compreender a fé de nossos antepassados e entender como eles lidavam com isso. Para o bem ou para o mal, eu tenho que entender que só estou aprendendo.

sábado, 4 de julho de 2009

Grupo, group, Kindred, Folk, Thiases ...

Muita coisa triste acontecendo em pouco tempo, isso sempre me faz pensar em meus deuses e nos aprendizados que tiramos dessas situações. Muitos pensam que cultuar os deuses na verdade pára exatamente nesse ato, não sei exatamente que vantagem Maria leva nisso, no final das contas, porque eu vejo os deuses como algo palpável e diário, eu vejo os deuses e suas ações em mim e nas minhas ações, nos meus amigos e parentes e nas ações deles.
Nos últimos meses eu me peguei compreendendo o quanto eu mesma estava desprovida de valores, no quanto eu mesma estava perdida por conta disso. Também por muito tempo em meu caminho espiritual eu quis caminhar sozinha e nunca havia me dado conta do quanto nós crescemos como seres quando temos a dádiva de podermos caminharmos em grupo, o contato, o carinho e mesmo as brigas nos elevam de uma forma grandiosa, de modo a fazer-nos pensarmos mais e mais no que devemos e podemos melhorar.
Como devota de Apolo, o desejo de ser melhor a cada dia é grande em meu coração, é um desafio afinal, ter de tomar uma nova postura diante da vida e das coisas, dos amigos e das paixões, da família e de si mesmo. Em minha concepção minha espiritualidade deve estar encerrada exatamente aqui, onde eu vivo, onde eu me encontro, onde eu sinto e penso, onde eu estou. Não sinto que meus deuses são apartados de mim, mas estão comigo em cada ação, no meu dia-a-dia, em meu desejo de me tornar uma pessoa melhor, em meu desejo de me vencer como meu pior inimigo (que sou).
Esse contato em grupo tem me elevado de um modo impressionante, tenho visto qualidades minhas que jamais havia visto antes, medos que jamais tive antes, estou tomando posturas e ações que eu também jamais havia tido antes. Entreguei fragilidades minhas, tais como medos, controles, dependências a Zeus e tenho tentado agir de acordo com isso, tenho tentado impor um novo comportamento a mim e entregando esse sacrifício a Zeus. Tenho pensado em milhares de coisas as quais eu desejo mudar, em milhares de coisas que me tornariam melhor tanto para mim, quanto para o mundo, sei que eu tenho que ir com calma, sempre um passo de cada vez, mas a cada dia que eu venço, que eu deito em minha cama e vejo que agi como deveria, sendo verdadeira comigo e com os outros, eu sinto que estou vencendo e me tornando cada vez mais pagã.
Como conversava esses dias no telefone com o meu irmão (de espiritualidade) preferido e que chegamos a um consenso onde sabemos que nos dias de hoje todos os conceitos cristãos que nos fizeram engolir goela abaixo durante toda uma vida, estão alguns tão arraigados que se tornar realmente um pagão se torna uma missão impossível (embora sabemos que isso é bem possível se realmente desejarmos isso) e isso instigou em mim, e acho que também nele, essa vontade de fazer melhor, de ser melhor, de abrir nossos pontos de vistas e de mudar nossas crenças e conceitos.
São nessas fases mais difíceis que encontramos uma luz, uma força que nos impele ir em frente, que nos faz desejar mudar tudo o que parece estar nos deixando estagnados. Quando pude ouvir minha amiga dizendo sobre suas dificuldades, eu vi o quanto foi importante todo este caminho, toda a lapidação que tenho recebido dos deuses, foi como que se eu tivesse visto que realmente eu subi um degrau. Hoje conversando com a Sis, notei que não vale a pena não sermos verdadeiros ou tentarmos passar uma imagem de “semi-deuses”, porque somos mortais e devemos pensar como mortais e viver como mortais, mascaras servem somente para nos prender, para estagnar nosso crescimento. E não creio que exista crescimento sem amor, nem amor sem coragem e nem coragem sem deuses e nem isso seria possível se eu não pudesse observar meu caminho com minha mente e pensamento e tampouco que eu pudesse observar tudo isso sem os olhos daqueles que verdadeiramente me amam e me apóiam nesse caminho.
Acho que acabei por fazer esse post se tornar exatamente um tipo de elogio e de passar a imagem do quanto estou feliz e do quanto sinto que estou crescendo, quando sei que posso compartilhar minha vida e espiritualidade com pessoas que realmente estão aqui comigo e eu espero de coração que eu esteja também fazendo a minha parte no caminho deles!

domingo, 14 de junho de 2009

Retornando e Altar

Será que preciso mesmo me explicar? Tudo mudou, eu precisava organizar a vida e organizar meus blogs também fazia parte desse processo, por isso juntei o Delfos para a minha conta do In My Chaos, isso era necessário, porque eu já estava ficando perdida com tantas contas e tantos blogs.
Perambulando pelo Parnasso encontrei um irmão nesse caminho, a quem eu sou muito grata e estou muito feliz de estar trilhando esse caminho, temos aprendido muito um com o outro e aprender é a palavra por aqui, porque eu mesma ainda tenho muito que aprender sobre o Helenismo e sobre tudo.

Pequena explicação feita, vão algumas coisas que eu fiz:
Meu simples altar de quarto:

A imagem acima mostra uma pequena parte do meu altar de quarto (rsrs), duas imagens que representam meus patronos Apolo e Dionísio, um pequeno prato de libações, onde deixo algumas coisinhas como pedras e ofertinhas que não estragam, meu jogo de palitos com o nomes dos Deuses Olimpianos e essa toalha azul é um presente meu à Atena (nem é o azul de Atena, mas como era a linha que eu tinha em casa fiz assim mesmo), uma pena não dar pra ver direito, mas eu mesma a fiz em crochê e nela eu escrevi o nome de Atena em Grego: ΑΘΗΝΗ.


Aqui até que dá pra ver um pouco o nome de Atena na toalha. Ao lado uma imagem de Afrodite e alguns palitinhos com os nomes das pessoas que caminham comigo por esta trilha espiritual (Sharon, Vini e minha irmã). Porta incenso que ganhei em um dos ESP-SP e bibelozinhos de golfinhos, cisne e leão.

Uma foto por cima do altar após uma prece. A vela de Héstia ao canto apagada já, as imagens dos deuses, parte do aparelho de som que dividi meu altar sobre a comoda (rsrs), a caixinha de madeira que comprei para Dionísio após sonhar com isso, a miniatura de uma espada para lembrar Agon, o saquinho de crochê que fiz para o Vini colocar seu Oráculo Apolíneo e bagunça. O caldeirão, o chifre outras coisas que uso não estão nessa foto porque normalmente os deixo guardados.


Copiando a idéia da Alexandra Nikasios também fiz os nomes de Deuses para deixar sobre o altar, pirografando-os em palitos de madeira.
E é isso... Só para dividir um pouquinho de minha vida pagã com vocês!
See you!



sábado, 4 de abril de 2009

Presentinho de Dionísio!

Efxaristo, Dionísio!

Primeiro eu pensei em falar sobre a Delphinia, foi o Ritual com direito a comilança, dança, transe e tudo! Tive um sonho todo especial depois, que embora não fosse nada relacionado com o esplendor dos deuses, estava intimamente ligado com as minhas questões pessoais que lancei no ritual. Claro que eu pensei muito em Delfos antes de criar o ritual e segundo minhas parcas informações, esse era o lugar aonde as pessoas iam para resolver seus impasses, como eu também tenho os meus, me baseei nisso para terminar de formar o meu ritual. Foi lindo!
Porém, na manhã do dia de Delphinia, não era em meu amado Febo Apolo que eu estava pensando, mas sim no meu doce e risonho Dionísio. Dionísio se transformou sem sombra de dúvida no meu Deus libertador, acho que logo- logo ele estará sentadinho ao lado de Apolo em minha devoção particular. Então, ainda na manhã, eu peguei um gostoso cacho de uva verde que estava na geladeira de casa e prontamente eu pensei em Dionísio, Ele que tem me aliviado em meus momentos de angustia, e então eu pensei: “Por que não uma prece bem feita em agradecimento?”. Foi o que eu fiz!
Foi com coração sincero que comecei recitar os Hinos Homéricos, berrar Evoé em plena oito horas da manhã, para chamá-lo em seguida pelos seus epítetos e agradecer por tudo o que tem feito. Não era minha intenção inicial, mas como se fosse algo completamente intuitivo, iniciei uma pergunta do tipo: “O que eu te pediria? Eu que tenho muito que agradecer, não o que pedir? Sinto-me até incomodada a pedir a quem me faz tanto”. Mas, como que impulsionada pedi algo muito bobo, mas que daria um ar um pouco mais alegre a minha vida. Dormi logo em seguida e deixei a velinha lá queimando ao lado do cachinho de uva, tudo muito simples. Na quinta-feira, dia de Apolo, eu nem me lembrava mais que eu tinha pedido algo para Dionísio, aliás eu estava toda impregnada com a energia da Delphinia, mas me sentia meio jururu. Recitei os Hinos Homéricos de Dionísio e Apolo e lá eu fiquei ouvindo musica.
Quando eu fico assim meio down, eu prefiro me isolar, mas naquele dia ao contrário, eu insistia em lutar contra aquilo e sair, ao menos para caminhar, ou conversar com as amigas. Duas horas tentando me convencer de que sair era o melhor mesmo e lá fui eu pra casa de uma amiga, depois decidimos ir pra um barzinho beber um chop e ficar relaxada, e lá foi que aconteceu aquilo que eu pedi para Dionísio, mas eu sequer me dei conta no momento. Quando eu cheguei em casa e me deitei na cama, olhei para o meu pequeno altar e entre as coisas de Apolo, estava o cachinho de uva de Dionísio e eu pensei: “Pelos deuses! Não foi que Ele me atendeu mesmo!” Saí gritando em plena madrugada, totalmente ensandecida “Efxaristo, Dionísio! Efxaristo, Dionísio!” E tudo o que eu bem queria fazer era ficar gargalhando (doida mesmo).
É, às vezes os deuses tem de ficar empurrando essas malucas tipo eu, que pede as coisas, esquece e depois nem se dá conta de estar recebendo uma graça! Vivendo e aprendendo!