Zeus foi o rei dos deuses, o deus do céu e da tempestade, do destino dos homens e nações, da lei, da justiça e da conduta moral. Ele foi largamente cultuado na Grécia Antiga com numerosos templos e santuários. Muitos desses foram localizados no topo de colinas ou picos de montanhas, encontrou-se lugares onde oferendas eram tradicionalmente feitas para o deus que traz a chuva. Ele foi também cultuado particularmente pelas famílias em pequenos templos domésticos. - Retirado do site Theoi
“Xenios (Hospitaleiro): aquele que guarda a hospitalidade. Zeus também é chamado de protetor dos deveres de hospitalidade (Xenios)”. – Retirado do site Theoi
Por algum motivo hoje eu decidi falar um pouco sobre Zeus, deus ao qual eu sei muito pouco, embora estivesse sempre presente em minha vida de uma maneira ou de outra. Acho que como as outras pessoas eu gostava de pensar mais a respeito de um Zeus guerreiro, portador da égide, soberano, rei, senhor de tamanha nobreza ao qual muitas vezes eu não julgava estar sequer aos pés.
Admito ter ficado espantada quando li há algum tempo que Zeus era protetor dos casamentos (Gamelios), protetor das provisões (Ktesios), mas o que mais me chamou a atenção e pelo o que eu realmente quero falar neste ensaio é sobre Zeus Xênios, aquele que guarda a hospitalidade, o protetor dos deveres de hospitalidade. Na Antiga Grécia, era obrigação receber bem todo e qualquer estrangeiro, de prestar cuidados, auxílio e hospitalidade, isso era um código inviolável de paz.
Nos dias em que vivemos é muito difícil honrar esse código de conduta, nem sempre nós podemos abrir as portas de nossas casas para receber um estranho porque não sabemos na verdade o que nos pode acontecer. Vivemos temerosos e inseguros diante da brutal violência a qual temos de lidar em nosso cotidiano, além de vivermos numa sociedade que carece sem sombra de dúvida de valores. Porém, não por isso devemos deixar de exercer esse código.
Quando recebemos um amigo ou um amigo de um amigo em nossa casa, nós devemos dar-lhe o que há de melhor lá. Não precisa seguir um manual para saber como tratar alguém como que se estivesse recebendo um rei em sua casa, todos nós sabemos como agir, como agradar, como cuidar, como acolher alguém. É dessa forma que devemos ver as pessoas, como nobres que atravessam o nosso caminho, sejam essas pessoas o que forem. Damos o que há de melhor para elas, não para mostrar o que temos, mas sim para nos enobrecer com tal gesto, como faziam os antigos. Cultuar Zeus implica também em seguir seus códigos, fazer aquilo que a energia do Deus nos impele a fazer.
Quando recebemos as pessoas em nossas vidas, seja da forma como for, temos de dar a elas a nossa hospitalidade, o auxilio que elas precisam, cuidar das coisas que elas necessitam e quando partirem sabermos que fomos nobres em nossos gestos e que se algum dia precisarmos estar numa terra estrangeira, talvez tenhamos amigos lá também para nos acolher. Falo também de forma figurada. Muitas vezes pessoas entram em nossa vida num momento em que precisam de nós, podemos dar as costas e fingir que não ouviu as batidas em nossa porta, como podemos abrir a porta e acolhê-las e cuidar delas no tempo em que estiverem em nossas vidas.
Nós pensamos muitas vezes que nem sempre a pessoa agirá com reciprocidade e talvez quando precisarmos dela, ela não nos ajude. Pensamos também que ela pode violar o nosso lugar sagrado, bagunçar com a nossa vida, trair nossa boa índole e se isso acontecer, ela estará violando um acordo sagrado e nós temos todo o direito de declarar “guerra” a essa pessoa, pedir por justiça, buscar pela justiça. Esse caso é muito bem exposto na Ilíada quando Páris abusou da boa acolhida do rei Menelau de Esparta e levou Helena consigo para Tróia. Não somente pelo adultério e desonra do rei Menelau, porém ser acolhido, bem recebido e retribuir todo o apreço do anfitrião com uma traição humilhante era inadmissível. Violar uma regra sagrada era incitar a guerra.
As Máximas Délficas que nos lembra sempre disso são as quatro listadas abaixo, segundo a minha percepção:
55. Dê de volta o que recebeu (Λαβων αποδος) .
93. Lide gentilmente com todos (Φιλοφρονει πασιν)
97. Seja cortês (Ευπροσηγορος γινου)
106. Seja grato (Ευγνωμων γινου)
Da mesma forma nós devemos lidar com os deuses, como muito bem explicado num artigo de Carolyn Hanson, traduzido para o português por Alexandra Nikasios:
Xenia - Amizade convidativa, hospitalidade. O anfitrião e o hóspede/convidado são unidos por concordâncias especiais de amizade, proteção e reciprocidade. Tal relacionamento não é muito diferente do relacionamento entre um cultuador e um Deus. - Conceitos Importantes na Religião Helênica
Como reconstrucionistas helênicos é um dever exercer a hospitalidade como uma forma de honrar e alegrar Zeus, carentes de valores como estamos, devemos buscar agir em nossas vidas adotando códigos de condutas que condizem com a nossa fé e assim ter também um bom relacionamento com nossos deuses e nossos antepassados que nos legaram essa religiosidade que buscamos exercer hoje. Fazer rituais é importante, mas não é somente isso que precisamos para exercer nossa espiritualidade.
Que Zeus e Apolo nos abençoem nessa obra.
Ésto.